17.2.07

 
CARNAVALESCO
Já fui índio, pirata, caveira
palhaço no basquete
corcunda na bateria
Boneco-de-Olinda
folião sem eira no Beira
Carrapato no Pacotão
surdo na Dular
frevista sem sombrinha
funcionário fantasma
camisa 10 da seleção
Esse ano, vou de cuíca,
incompreendido instrumento
Sem fantasia, desmascarado
travestido de mim mesmo
carro alegórico desgovernado
Que venha a apoteose
na overdose de gentes
meu bloco, na rua
contramão da razão
na fala ligeira de tamborins
No baile que invento,
não tem solidão de entrequadras
cerveja, anda ao lado
e baquetas procuram nas peles
até acharem o bronzeado do Samba
O to-ca-dor quer beber!
Eric Germano - 16.02.2007

13.2.07

 

Sulfúrico

Hoje acordei sulfúrico

Derreti o despertador
No primeiro grito

Os pedais do spinning
No primeiro giro

O tatame da Ioga,
No primeiro acorde da cítara
(que também esvaiu-se em comas)

Fui desintegrando...
O bom dia ensaiado do porteiro,
toquei o botão 6 do elevador,
e meu andar virou fumaça ácida
E, a ordem do dia,
na primeira fala do chefe
Algumas teclas do te_lad_

O tempo foi se carcomendo
Temendo que eu contasse com ele
Cadeira não mais havia

A concentração foi aumentando...
Corri para casa, quase desnudo
Só de olhar, eliminei o retângulo,
a meia-bola e a catedral de Niemayer

Enfiei-me num recipiente envidraçado
E dormi um sono de azedume
Esperando acordar neutro


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Cartas Náuticas

Ah, cartas náuticas!
Espalhadas sobre a mesa
Aventuras além mar
Especiarias, portos
Sabores exóticos
Devaneios com Walkírias
Ruivas
Outros saberes
Outras línguas
Sabor do vento

Muitas realizadas,
Riscadas em definitivo
Anotações, souvenirs
Pedras, sementes, peles, destilados
Besouros, dentes, escamas
Sotaques, palavras, palavrões
Adagas, pólvora, cicatrizes
Um dicionário de tormentas
Calmarias, enjôos,
Água saloba
Saudades, privações
Manchas solares

Fala Klink,
que o pior é não partir
Naufragar em terra firme

Ver o mar esmeralda,
E não prender vento às velas

Para alguns
Nem todos destinos
Podem ser escritos

Ah, cartas náuticas...


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12.2.07

 
SEJA

Não é toda foto que me rapta
não é todo quadro que me pinta
não é todo ví­deo que me capta
nem é todo drible que me finta

Não é toda orelha que me pendura
não é todo olhar que me fita
não é todo abraço que me segura
nem é todo lábio que me audita

Não é toda lábia que me leva
não é toda aula que me complica
não é todo degrau que me eleva
nem é toda lei que me aplica

Não é todo firewall que me queima
não é todo brilho que me seduz
não é todo acerto que me treina
nem é toda lí­ngua que me traduz

Não é toda espera que me atordoa
não é toda vontade que me cega
não é toda paixão que me perdoa
nem é todo beijo que me carrega

Não é,
nem é,
mas talvez,
"era uma vez..."
Seja!

Eric Germano - 11.02.2007


5.2.07

 
Tá Tudo Linda

Eita toada boa!
Tá tudo linda:

Borboleta pousa em flor
gira o sol, desalinha
ilumina nas encostas
realinha riscada pele
traço certo infinito
encontro bonito
d´agulha na maciez
desenha tez

Eita toada boa!

Carregas luz
ou é ela que impulsiona
sonhos sonhados
e vividos
emoldurados
no canvas-derme
assinatura
de ser e de brilhar!

Tá tudo linda!

Eric Germano - 05.02.2007


2.2.07

 
O Monstro do Lago Fitness,

Apesar da ciumeira autêntica que nosso artificial
Paranoá pode apresentar, e dos guitar-heroes que se
rasgam em distorções no tradicional Estúdio Lochness,
dou meu depoimento sobre o tal monstro.

Perto das seis da matina, horário de verão, ou pior,
horário de escuridão total. Após seus roncos
costumeiros, que arrepiam os moradores dos sobrados da
W3, ele se levanta, desnorteado (posto que se entoca
na Asa Sul). Cego pela escuridão da madrugada e pelo
astigmatismo-míope que carrega, se arrasta até o
banheiro, sem esbarrar nas portas - que foram
arrancadas pela sua cauda, desde sua infância.
Incomodava-o, naqueles tempos, ser o último-da-fila na
entrada da sala-de-aula. Além da Ordem e Progresso e
ordens-do-dia, tinha que aguentar a ordem de altura -
coisa do militarismo?

Finalmente no banheiro, veste as lentes-de-contato,
mesmo com os olhos fechados - uma proeza digna de um
monstro. Ao resto do espelho, só resta olhá-lo de
forma desdenhosa. Aquele aspecto não lhe causa mais
qualquer espanto. O monstro reflete no espelho e sente
o cansaço de refletir. Sua juba é um misto de
Elvis-não-morreu com Bozo com Hebe. Fios brancos
atestam a idade mônstrica. Ele não gosta de
aniversários e não se lembra do dia que nasceu. Ele
não gosta de lembrar de absolutamente nada, ainda mais
essa hora. Despenca pela escadaria deixando em cada
degrau um pedaço do pesadelo passado. O espelho fica
feliz em refletir um quadro que ele gosta.

Solta um raio infra-vermelho e arrasta as grades
herméticas da caverna - o Monstro é irremediavelmente
tecnológico e hermético. Sai rodando, pois até
monstros no DF têm quatro rodas. Escuro. Seus olhos
enxergam mal no escuro. Lembra do feijão preto,
estocado no freezer. Dadá alimentou o Monstro com
feijão-preto e broncas. Foi o Monstro que levou Dadá
ao hospital nas duas únicas vezes que Dadá foi
atendida. O Monstro não gosta de hospitais. Na
primeira, Dadá sobreviveu à cirurgia do fêmur e voltou
a andar, fazer feijão-preto e dar broncas no Monstro.
Na segunda, se afogou no próprio pulmão. O Monstro
chorou, mas só o espelho viu, sem se importar com
aquilo. Tentou fazer um poema, mas esqueceu as imagens
que criou. Monstros não fazem poesia. O estoque de
feijão-preto está no fim. O Monstro deve estar no fim
também. Ele não sabe bem de que. Ele sabe pouco.

Por isso, o Monstro deu para se preocupar com a saúde.
Chegou na academia, por volta de 06:10. Só o Monstro e
malucos (pensa ele) freqüentam academia essa hora. A
bicicleta estacionária já o esperava. O professor
manda, o Monstro executa. Pensa nas calçadas da 102
sul, onde pedalou e pedalou. O monstruoso coração do
Monstro, suporta bem o esforço. Como não carrega
sentimentos dentro, é uma máquina otimizada para
funcionamento adequado do Monstro. Terminado o passeio
estático na sala envidraçada, o Monstro carrega pesos
e puxa cabos-de-aço por roldanas, em sala ladeada por
espelhos e vaidades. O Monstro se lembra de motéis,
depois se esquece, como de costume.

O Monstro não entende porque está ali, nem o fato de
que todas as fêmeas no recinto espelhado não
aparentarem necessitar estar ali. O Monstro precisa.
Ele acha que precisa. O Monstro entende pouco de si e
do mundo a sua volta.

Vai para o alongamento. Estica tanto que deseja matar
o professor. Depois esquece disso. Volta para casa
pedalado, marombado e esticado. Bate a cabeça no
varal, no lustre, e se aproxima do freezer, ávido por
um congelado de feijão-preto...

(dedicado à Marcya Reis)

Eric Germano - 02-02-2007


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