1.11.06

 
A BOLSA OU A VIDA

Boiando, somos peixes
Vertebralismo materno nos suporta
Quem nasceu, venceu ao menos um ciclo:
Formados em citologia aplicada
Somos a bolsa
Que sacoleja em cada degrau

O som distorce-se em tecidos
O alimento, chega-nos em tubos
Nada de luz... mas há saída
Antecipada, marcada, conforme a Lua
Somos expulsos, ou arrancados
Deixamos cicatrizes, levamos códigos
Quase decifrados, quem se importa?

Nem todos trocam a bolsa pela vida
Pois amar a bolsa é amar uma promessa
É uma dívida, hemoláctea
São medidas perdidas...
Sem afeto, não há feto
Desfeito, em hospitais clandestinos
Da bolsa ao saco-de-lixo

Por saudade da bolsa, vamos ao sono
Aos sonhos...
Acordar é brincar de renascer
E na vida, pós-bolsa
A recorrente pergunta:
Abort, Retry or Fail?

Set/2006

 
ÁGUAS DO NOVE

O ano e os monumentos voam
Perto, o dia de ser independente
As cigarras sentem o cheiro da chuva
E afinam aladas rabecas

Ensaios de temporais riscam o azul
Guarda-chuvas para prevenidos
Ensopados incautos na rua
Poças, splashes, caos automotivo

Mesmo com tamanha água
O Paranoá escoa
Nunca chegará às 700!
Inundaria a cidade inclinada?

No Tatuapé
Margarida perdeu sapato
no aguaceiro...

Em Jundiaí,
Ladeiras eram cascatas de paralelepípedos
E caravelas de papel

Em Sorocaba
Eu não sabia da aula
Quando chovia

Em Tubarão,
O rio foi ao Centro, marcou paredes
Marcou-me também

Logo, Brasília, férrica-cinzenta,
Retornarás verde
Cigarras reverterão a gravidade
Serão frutos nas árvores saciadas
Num sonoro namoro

Brasília, é Setembro!
Que venham águas
E lavem gentes
Amantes, dependentes
De ti

set/2006

This page is powered by Blogger. Isn't yours?