10.9.04

 
NO ESPELHO

Textos erráticos
nuvens negras virtuais
miragens e outras vertigens
córtex dilacerado
homem das cavernas concreto

Na busca de um buraco
para enfiar minha testa de avestruz
parem o mundo!
parem as prensas!
parem a pressa!

No meio do rio, estou de pé
mas estou sem ar
sem fugas nem artifícios
emboscado, babaca dentro de mim mesmo

À beira da loucura
dos que insistem em viver
me desconheço, viro fumaça
viro risada nos corredores de mármore
escorrego nos granitos da minha mediocridade
me ajudem, oh deuses-garçóns do Beira

Ligue para os bombeiros
que meu amigo vem de helicóptero
chame o síndico, berre no interfone
sou alto-falante, vendendo eu mesmo
vou pulando do tudo ao nada
como quem tenta subir escada rolante
que insiste em descer

Às vezes, preferia ser Nosferatu,
pois foi duro me ver no espelho...

9.9.04

 
DEGUSTEMPO

Tic-tac, tic-tac
passam segundas intenções
tic-tac, tic-tac
voam minutas de poemas
tic-tac, tic-tac
passam imagens de outrora

nhac-nhac, nhac-nhac
mastigo o ventre de seus verbos
nhac-nhac, nhac-nhac
dente-a-dente, céu na boca
nhac-nhac, nhac-nhac
trituro sua carne boa

tic-nhac, tic-nhac
atrás de um momento eterno
nhac-tac, nhac-tac
água-na-boca, boca-na-boca
tic-tac, nhac-nhac
d e m o r a d a m e n t e

Eric Germano - 09-09-2004

2.9.04

 
O QUE MOVE

Ah, pernas pra que as quis...
Engatinhei no olhar de Dona Rosa,
Pulei corda com ZéHenrique,
Caminhei em busca de um Lozano.

Percorri maratonas de quadros-negros,
carreguei Jú é Marco, dois tesouros!
Acelerei, apertei o freio, na estrada da vida...

Abri caminhos para Eric e Denis,
filhos emprestados,
e para tantos anônimos.

Nessa toda locomoção,
carregou Rosa até o fim,
movida a bom-humor, bom-amor

Ah, pernas pra que as quis...
Pernas pra que as quero:

Correr atrás do neto,
correr atrás dos novos sonhos
Caminhar com Lozano,
visitar ex-alunos
Mudar de ares,
dar mil voltas ao mundo...

Mas, pernas também pedem revisão
Foram-se as safenas...
Que se vão!

O que move essas pernas
Não são quadríceps, patelas, veias
É o que vem do coração!

Eric Germano – 02/09/2004

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