3.1.05

 

Everest e o Novo Ano

Se tem uma coisa que me intriga, é o fato de que algumas pessoas vivem para escalar montanhas, onde gelo, cordas, hipoxia, barracas, sonhos, deslizamentos e ambições fazem parte do cotidiano.

Para os viciados em tal prática, seja por prazer ou profissão, o Everest é sempre o objetivo mais cobiçado. Com várias faces e opções de chegada ao cume, todas levam o ser humano ao limite de suas forças. Mas para que tanto esforço?

Dizem que na tal montanha, uma Deusa decide quem vai atingir o ponto máximo, quem vai apenas sofrer, quem vai perecer na tentativa, e até mesmo, quem nunca vai ter a chance de chegar ao menos no sopé da colossal formação rochosa. Para muitos, é apenas marketing ou turismo; para poucos é uma missão de vida, ou de morte.

Na base da gigantesca rocha está o povoado Sherpa. Devotos da Deusa, atribuem poderes mágicos e vontades humanas à montanha. São os carregadores de equipamentos e sonhos de outrem. Arriscam suas vidas como forma de ganhar o pão e garantir que seus filhos não tenham que se submeter aos caprichos dela. Os caminhos para o topo são trilhados por eles com maestria e sem o júbilo dos ocidentais; são os responsáveis por fixar as cordas e as incríveis escadas-pontes de alumínio. Além disso, ainda têm que operar as digitais câmeras para registrar os heróis ocidentais.

Por volta dos anos 50, um inglês e um Sherpa foram os primeiros a conquistar o pico. O Sherpa voltou ao povoado elevado à categoria de divindade. O inglês, fez a história, contada sempre na versão dos vencedores. Ficou claro que nenhum dos dois chegou primeiro, apesar das disputas promovidas pela imprensa e entre os povos. Um sem o outro não chegaria a lugar algum...

Cá embaixo, longe do frio e da falta de oxigênio, a cada ano renovamos nossos objetivos pessoais. Escolhemos um alvo, uma meta. Um novo emprego, um novo curso, estudar para um concurso, um novo relacionamento, um carro “do ano”, um novo corte de cabelo, aquela dieta, um novo filho. Nunca satisfeitos, nos agarramos aos nossos deuses e divindades, tentamos encontrar uns Sherpas no nosso convívio, pegamos nossas mochilas e equipamentos e vamos rumo ao nosso Everest. Conquistar faz parte da nossa natureza. Tentar algo novo e difícil, é nosso destino!

Um 2005 repleto de Paz e Bem!

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