10.9.04

 
NO ESPELHO

Textos erráticos
nuvens negras virtuais
miragens e outras vertigens
córtex dilacerado
homem das cavernas concreto

Na busca de um buraco
para enfiar minha testa de avestruz
parem o mundo!
parem as prensas!
parem a pressa!

No meio do rio, estou de pé
mas estou sem ar
sem fugas nem artifícios
emboscado, babaca dentro de mim mesmo

À beira da loucura
dos que insistem em viver
me desconheço, viro fumaça
viro risada nos corredores de mármore
escorrego nos granitos da minha mediocridade
me ajudem, oh deuses-garçóns do Beira

Ligue para os bombeiros
que meu amigo vem de helicóptero
chame o síndico, berre no interfone
sou alto-falante, vendendo eu mesmo
vou pulando do tudo ao nada
como quem tenta subir escada rolante
que insiste em descer

Às vezes, preferia ser Nosferatu,
pois foi duro me ver no espelho...

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